Contar histórias pelo simples e puro deleite do “era uma vez” e do “felizes para sempre” nunca esteve presente em minha vida. Não, essas histórias não existem. Só existe, de fato, “uma vez” para ser alguém nesta vida mundana e o “para sempre” depende somente de nossas escolhas e ações. É exatamente por isso que eu, Gabriel Ignazzio Gualtieri, vivo intensamente minha vida e construo, sem sombra de dúvidas, o meu “felizes para sempre”, ou ainda, o “feliz para sempre”.
Minha família possuía grande influência na Itália. [i]Sì, sì! Lo sono della nobiltà italiana![/i] Os resquícios de uma era gloriosa, era em que a magia imperava e dominava todo o mundo fizeram com que nossa fortuna aumentasse durante muitos anos. Mesmo nestes tempos decadentes da magia, ainda sentimos nossos cofres cheios de galeões.
Meu mundo, desde que era apenas um bebê, sempre fora rodeado de pessoas. Os muitos familiares, os amigos, os interesseiros, os inimigos, que só multiplicaram enquanto eu crescia. Tinha sempre alguém ao meu lado, ou me seguindo, ou obedecendo minhas ordens, mas... Não passava disso. Pessoas descartáveis, que iam e vinham, e nunca mudavam nada em minha vida particular. Me contentava em ser feliz apenas comigo mesmo. Sempre arredio, orgulhoso e excluso. Se [b]eu[/b] estava bem, então não havia motivos para me preocupar – simples assim.
Aos meus oito anos de idade, percebi os primeiros sinais de magia que me eram natos. Durante um dos rigorosos invernos italianos, trancado no quarto para me proteger do frio que castigava, observava a neve cair do outro lado da janela. No ímpeto de me divertir com tudo aquilo, aninhei os pequenos flocos congelados e criei um pequeno e desengonçado boneco de neve. Senti meu orgulho se inflamar e saí aos berros anunciando a todos que a magia, finalmente, havia se manifestado.
Iniciei alguns anos mais tarde, os estudos em magia em nossa escola italiana. Ali, mergulhei no universo dos livros enquanto todo o universo da magia travava sua guerra particular com os muggles. Na minha opinião, perda de tempo. Nós éramos a raça privilegiada, o sangue mágico que vertia em nossas veias tornava-nos imensamente superiores aos desprovidos de magia. Como modo de defesa, sentia a necessidade de unir minhas capacidades mentais com as capacidades mágicas. Era, ainda, um verdadeiro pensador. Horas a fio escondido do mundo, perdido em meus pensamentos. Alimentando meu ego, inflamando minha inteligência, fazendo emergir uma concentração impecável, controlando meus pensamentos, desejos e necessidades. Eu estava sendo dono de mim mesmo. E dono de minha mente.
Foi por isso que, com a evolução da magia, me encontrei entre as características da transfiguração. O autocontrole que isso exigia, anos e anos treinado. E assim, me empenhei em dominar a mente. Objetivar minha capacidade mental por entre minha capacidade mágica, chegando até, a controlar as leis da física. Exigia muito esforço, é claro, mas os anos acadêmicos foram me dando suporte para tal.
As coisas não estavam melhor na adorada Itália. No entanto, os negócios pendentes da família exigiam nossa presença nos territórios ingleses. Não é que Marielise estava ficando velha demais para administrar os bens? Nos formaríamos ali, em Hogwarts e, assim, nos lançaríamos no mundo mágico com força.