"Meu nome é Megara Wangüuk e já cometi um assasssinato.” Essa são as palavras que ecoam todas as noites durante os pesadelos frequentes no sono de Megara. Apesar de não ter nenhuma lembrança, quando fechava os olhos, ainda conseguia ouvir o choro de uma criança enquanto era trazida ao mundo, ao mesmo em tempo que mais um coração humano ia, lentamente, perdendo o ritmo das batidas até desfalecer por completo. Não era sua culpa, sabia, contudo se culpava pelo fato de nunca ter visto a imagem de sua mãe que não fosse por meio de lembranças e registros, enquanto a mulher estava sorridente por pensar que logo teria uma filha, a compor uma família feliz de quatro pessoas. Pena que isso se transformara em um pesadelo, tão duradouro que conseguia atingir Megara mesmo quando ela não está dormindo.
No entanto, a pureza sempre compôs o sangue da família Wangüuk, um motivo de orgulho para alguns de seus descendentes. Uma das poucas lembranças maternas presentes na vida de nossa personagem. Mas nem sempre a riqueza trás bons frutos, alguém disse um dia, e Megara poderia comprovar. Havia assassinado sua mãe, de forma indireta, e não recebia atenção do pai, que levara ela e seu irmão para viverem com o avô, ocupado demais com as amantes que sempre levava para casa mesmo quando a esposa ainda estava viva. Mas Adrian, como chamava o homem que lhe gerira, ainda ansiava por mais. Afinal, a herança que era de família ainda pertencia ao avô das crianças, que mantinha a guarda dos dois.
“As crianças.” Provavelmente a única manifestação sobre os dois frutos da família Wangüuk que fazia Megara querer sorrir e sentir-se feliz por seu nascimento. Três anos antes de si, nascera Arthur - Arthur, para o restante do mundo, e Art, para ela -. Sendo ele seu único ponto seguro, e ao mesmo tempo que a única pessoa que a conhecia melhor que si mesmo, sabia que sua vida se tornaria um inferno no momento que fosse separada dele, de alguma forma. E esse dia chegara. Demorara, claro, o que tornara tudo ainda pior, pois nenhum dos irmãos imaginava que chegaria de forma tão súbita, de modo a formarem uma relação forte. Mas chegou.
A morte do avô não causara apenas dor em Megara. O que causara a real dor foi a notícia de que teria de viver, a partir dali, com Adrian, e sua herança seria divida entre Art e ela. Era o dinheiro que seu pai almejara, sempre fora assim, e sempre seria, mesmo que ele gastasse grande parte do que tinha com amantes de uma ou duas noites. E fora esse mesmo desejo por dinheiro que levara-o a separar os dois irmãos, enviando Arthur para Beauxbattons e Megara para Hogwarts, escolas separadas. França e Londres, respectivamente. Não era irônico? O fim do inferno ficava apenas a 829 quilômetros de distância. Pena que aquela distância, no inicio de seus onze anos, era inalcançável.
"Meu nome é Megara Wangüuk e já cometi um assasssinato.” Será que um dia poderia fugir dessas palavras?