A família não era rica, mas também não era pobre. O importante para os Galestorms sempre fora o amor. Edward e Angeline tinham um casamento perfeito e o primogênito, Alexis viria a ser a bênção que coroaria a felicidade do casal. Em seu círculo de amizades, todos já eram pais, e o pequeno já era, há muito, aguardado. Com a notícia da gravidez de Angeline, a felicidade estava completa. Não havia mais nada que faltasse em suas vidas.
O bebê foi muito amado, e já desde pequeno demonstrava grande curiosidade para com tudo. A apreensão agora, era saber se ele seria detentor ou não da capacidade bruxa. Abortos eram muito frequentes do lado paterno, seus dois irmãos mesmo, Ludd e Todd eram abortos. Não que fossem mais ou menos felizes, caso o pequeno Alexis não demonstrasse aptidão mágica, mas sem dúvidas seria motivo de mais orgulho ainda, seu primogênito conseguir ingressar e concluir os estudos em Hogwarts, assim como os pais, Lufano e Corvina.
Até os 8 anos de idade, Alexis não demonstrara nenhum talento, o que secretamente despertava uma ansiedade velada no coração do casal. A criança era linda, perfeita em todos os aspectos, mas privava o casal de conviver com alguns de seus antigos amigos, pois ouvir deles os feitos mágicos e fofos dos filhos era sempre desconfortável. Principalmente para Edward, com cobranças do tipo: "Ah, não se preocupe, você já está acostumado com abortos na família" ou "Tomara que ele puxe o lado da mãe". Angeline por sua vez, ainda que de forma bastante sutil, nutria certo ressentimento com relação ao marido. Sabia que, se o filho não fosse bruxo, certamente não seria por sua culpa.
Assim, com pequenas mágoas guardadas e trancadas em seus corações, os pais começaram, aos poucos, a tornarem-se amargos. Primeiro uma alfinetada, depois uma indireta, no fim, já se falava em divórcio. Dos 8 aos 11, o pequeno Alexis começara a perceber que talvez o motivo da discórdia fosse ele próprio. Os pais eram tão felizes, será que era algo que havia feito que comprometia a felicidade deles? Assim, ainda sem saber direito o que se passava com eles, começou a pedir que tudo voltasse a ser como era antes. Mesmo não sabendo exatamente a quem estava pedindo.
Foi no seu aniversário de 11 anos que o seu pedido foi atendido. Os pais, à mesa do café da manhã já não mais se falavam. A frieza no ambiente era quase como uma amiga, o que o deixava muito triste. Para compensar, Alexis falava, e conversava muito. Com os pais, que não o ouviam e com os objetos domésticos. Sempre fora uma criança ativa, e essa tensão o transformou num verdadeiro ser falante e sem freios. Até que um baque surdo se fez ouvir na janela. Uma coruja, pequena, marrom e feia, e um envelope. Aquilo iluminou o ambiente. Os sorrisos nasceram no mesmo instante. Era a carta, convidando o pequeno a ingressar na maior instituição mágica de ensino de todos os tempos.
O que os pais nunca entenderam foi que a magia, muitas vezes, se manifesta do coração, sem efeitos visíveis e palpáveis. A lição que aprenderam ali, naquele momento, é que o milagre da magia já havia sido realizado, no nascimento do pequeno Alexis, que por sua vez, encontrou em seu coração a forma mais pura da magia: o amor incondicional.