Era uma noite escura e chuvosa, um homem encapuzado carregava sua filha bastarda, entregada pela amante na véspera, enrolada numa manta branca de lã. A mãe não passava de uma bruxa sem importância com quem tinha tido um caso e ele um bruxo com uma reputação a manter e uma família que não poderia saber de nada. Não queria se livrar dela, principalmente quando olhava aqueles olhinhos castanhos tão parecidos com os seus, mas era preciso. E logo ele a deixou, ao lado de um homem que dormia na porta de uma casa, não queria saber se ela ficaria bem, apenas precisava pensar que ela estava com alguém e seria problema dessa pessoa agora e assim foi embora, sem nem olhar para trás uma vez sequer, sem sentir nenhum remorso ou culpa.
O homem que dormia a notou assim que um choro fez com que despertasse, seus olhos se encantaram com aquela aparência frágil e inocente. Não demorou mais do que trinta segundos para decidir que a criaria como sua mesmo que não tivesse dinheiro ou aonde ir. Apenas cuidaria dela e isso estava decidido.
Os anos foram passando lentamente, a garota ia crescendo sendo ensinada sobre o que deveria fazer para obter o que queria, mesmo que tivesse de usar de meios pouco direitos. A ensinou a roubar e enganar, ficava feliz quando via que ela aprendia sem dificuldade, apesar de sua pouca idade e usava de sua pouca altura para entrar em lugares onde ele mesmo não conseguia.
Nina era o nome da garota, apesar dele ter dado esse nome apenas por dar, porque sempre a chamava de ratinha, achava apropriado já que a via como um ser pequeno e por vezes indesejável não para ele, é claro, mas para os outros, afinal, se ela tinha sido abandonada, deveria de ser.
De tudo que lhe fora ensinado, o que aprendeu com mais facilidade foi roubar e o fazia as vezes sem nem perceber, no entanto não se incomodava nem um pouco com isso, roubar era natural e enchia seu estomago, então era uma boa coisa a ser feita. Ao menos era isso o que achava.
Quando completou dez anos, andando pelas ruas com o homem que a criou, foi parada por um homem, que lhe disse ser seu pai e lhe pediu desculpas, alegando que sempre esteve de olho nela e a vigiava de longe. Esse mesmo homem lhe deu dinheiro e lhe contou sobre o que era, logo convidando-a para morar consigo já que tinha se separado da esposa que se mudou com os filhos para longe. Nina não quis, preferiu ficar com o homem que a criou, mas concordou, mais por ordem de seu criador, que fosse registrada como filha daquele homem, ficando assim conhecida como Nina Fiaccadori.
Ficou animada ao receber a carta da escola, mas essa animação durou pouco, muito pouco, porque exatamente no dia que ia comprar os materiais para a nova escola, seu criador se envolveu em uma briga, que resultou em sua morte e assim foi obrigada a viver com o pai biológico. Por pouco tempo, afinal logo iria para a escola e ficaria lá o máximo possível, só não aguardaria ansiosa para voltar para lá.
Os anos na escola foram bons até a chegada de seus irmãos mais novos. A falta de vontade de vê-los, somados com o instinto de matá-los acabou por causar sua expulsão de casa e anos e anos repetidos na escola, até que por fim ela desistir pra tentar uma vida diferente.