Não sei bem como começar isso, mas... Eu não sou de seguir muito uma linha, então não tem problema. Acho. De qualquer modo, sabe, ser feliz é algo que nem todos podem dizer que são e poucos são aqueles que se dão o prazer de admitir este estado (a maioria das pessoas, por algum motivo, parece gostar de sempre falar o quanto a vida delas é ruim, mesmo quando não é tão ruim assim – e posso ter onze anos, mas eu sei diferenciar realismo de pessimismo ou de drama desnecessário, tá?). Eu, para minha sorte, posso dizer que sou feliz.
Não, eu não sou uma inocente boba alegre. Não, eu não vejo unicórnios saltitando em arco-íris (apesar que acharia bem legal se visse). Não, eu não tenho um espírito absurdamente radiante e positivo como o da ‘Alegria’ de ‘Divertidamente’. Não. Eu sei o que é sofrimento. Eu sei o que é angústia. Eu sei o que é o mundo e sei que ele é feio (mais até do que eu deveria saber, talvez). No entanto, mesmo que coisas ruins existam e possam acontecer a qualquer momento, isso não muda o que eu sou.
E eu sou muito mais do que aparento, tanto quanto sou exatamente o que eu aparento.
O que eu não aparento e sou?
Isso fica em segredo, porque prometi para a minha mãe (mas eu sei que vou soltar alguma dica em algum momento, porque sou boa para guardar segredo dos outros, não os meus).
O que eu aparento e sou?
Essa é mais fácil: uma bruxa mestiça (meu pai é um bruxo sangue-puro alemão, poderoso e bom – pelo menos para mim, não sei para os bruxos malvados que ele caçava – e minha mãe é uma não-bruxa japonesa, muito conhecedora do mundo mágico – porque tio Kaito, irmão mais velho dela, é um bruxo nascido-trouxa e mamãe é uma mulher naturalmente curiosa que sigilo nenhum segura, então já viu), nascida na Inglaterra, que gosta de se aventurar sem medo, que prefere encarar os problemas de frente, que é um pouquinho (só um pouquinho) impulsiva e, como já disse, feliz. Minha irmã mais velha, Kamille, também diz que eu sou esperta e travessa... Se fosse outra pessoa eu negaria, mas como é a Kammy, bom, realmente devo ser (porque se tem alguém que a opinião eu considero e respeito, é a dela).
Falando em Kammy, aliás, todo mundo fala que eu pareço com ela, mas... isso é bem errado de se dizer. Não que eu acharia ruim se de fato eu fosse, mas mesmo que tenhamos alguns traços parecidos (só a cor dos olhos que é bem diferente) e que sejamos muito preocupadas com as pessoas (cada uma a seu modo), somos parecidas só aí. Minha irmã é linda, doce, gentil, pacífica (não tanto assim quando é com o Charles, mas tudo bem porque eles são bonitinhos), extremamente racional e nunca entra em uma briga que não seja envolvendo palavras e sagacidade. Eu... eu sou a que dá boas respostas, mas que em algum momento (ou logo no primeiro instante, depende) encara os meninos mais velhos e chuta a canela deles para que eles parem de roubar a boneca das meninas mais novas.
É. Um pouquinho impulsiva, eu disse.
Não sei se isso é bom ou ruim, apesar que por experiência sei que pode ser... problemático. Só espero que não me cause muitos problemas em Hogwarts, porque sim, FINALMENTE chegou minha vez de ir para a Escola de Magia e Bruxaria! FINALMENTE poderei ver com meus próprios olhos tudo o que ouvi em histórias de meu primo, minha irmã, meus vizinhos, meu pai, meus tios e minha avó. FINALMENTE poderei explorar a floresta proibida (que eu tenho certeza que o ‘proibida’ não quer dizer ‘proibida’, mas sim um ‘proibida para os que não tem coragem de tentar’), procurar a tal lula gigante, ver de perto o salgueiro lutador e caçar onde fica e como entrar na sala precisa. FINALMENTE... ok, são tantas coisas que não sei exatamente por onde começar (acho que tenho problemas com começos), mas garanto que fora a possibilidade de diversão (porque mesmo que nada tenha sou boa para criar o que fazer), não faço ideia do que esperar.
Afinal, se tem uma coisa que eu sei melhor do que ninguém (e acredite, convivendo com tantas pessoas fantásticas como as que me cercam, isso se torna muito difícil), é que o futuro é uma enorme interrogação, mesmo quando você é capaz de vê-lo.