Festival de Almabtrieb, doze anos atrás. Foi a última vez que os vi. A última vez que o vi. Dezessete anos na escola, servindo à Brigit com muita dedicação, e ao me formar, abandonei tudo, meu lar, minha família, meus amigos e… Kiefer. Sou a mais velha dos LeFay, herdeira da Excalibur, trono de Avalon e do sacerdócio das deusas, mas não quero nada disso, nunca quis. Assim que atingi a maioridade, tomei a decisão mais importante da minha vida, abandonar tudo e viver a MINHA vida. Meu pai, o rei de Avalon, ficou ao meu lado, assim como minha irmã, a doce Robin. Mas mamãe e Gwen ficaram tão contra que tomaram certo desgosto de mim.
No Almabtrieb despedi-me de Klara e Kiefer, em silêncio. Seria doloroso demais dizer adeus, ainda mais depois do beijo. Não, sumindo, talvez eles superassem e Kie… Talvez ele conseguisse seguir sua vida, arrumar alguém, construir uma família. Eu jamais o esquecerei. Na primeira semana de outubro daquele ano, voltei para a França, onde estudei música num conservatório trouxa e culturas mágicas, numa universidade bruxa. Aos vinte anos, terminei os estudos mágicos e optei por continuar vivendo como trouxa por um tempo. Sob o nome de Igraine Loxley, trabalhei como professora de música num internato trouxa.
Engraçado, vendo agora, talvez Gwen me odiasse ainda mais por tomar nota do meu sobrenome. Loxley, que faz tão parte de nós quanto LeFay, vem das antigas histórias de Robin Hood, tão reais quanto Avalon, o Rei Arthur e Morgana. Gwen odeia a parte rebelde de nosso sangue, mas ignora o fato de que tem boa parte dele, como nossa mãe. Os cabelos ruivos, marcas do gene Loxley, são intensos em abas, enquanto eu e Robin puxamos os LeFay, sendo loiras. A vida tem dessas, não?
Mas voltando a mim - não que eu goste muito disso - aos vinte e cinco resolvi que era hora de retornar à comunidade bruxa, e por uma ajudinha do destino, fui aceita na escola de Castelobruxo, onde, até os vinte e nove anos, lecionei Culturas e História da Magia. Mas claro, alguma hora a saudade bateria forte. Tantos anos na França me deixaram mal acostumada e acabei voltando para meu amado país, comprando uma casinha em Le Havre. Talvez, depois de tanto tempo, minha família me perdoe por querer trilhar meu próprio caminho, sinto tanta falta deles. E de Kiefer.