Sobrevivemos ao fim da saga de Harry Potter. Por mais de 12 anos distribuindo Magia!!!
Situação Atual: CADASTRO NORMAL E ATIVO
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Senti os dedos da mais velha acariciarem os fios roxos que me caíam da cabeça com ternura. Pude perceber o desespero de minha mãe naquele simples gesto e compreendia o peso que carregava ao ver ambos os filhos seguirem para uma escola que, até onde se sabia, mantinha métodos extremamente rígidos no que concernia a forma militarizada de ensino. Ela não gostava disso. Em contrapartida, eu estava acompanhada de minha coragem, traço herdado de meu pai, justamente porque queria alterar o modo como as crianças de todo o mundo eram ensinadas – Durmstrang significaria, para si, apenas a ponta do iceberg. Observávamos o grandioso navio da escola, talvez um pouco intimidados pela forma de transporte escolhida, enquanto pessoas transitavam de lá para cá, maioria de pele alva, cabelos lisos, bem trajados… Havia ali uma supremacia branca, a qual eu certamente não fazia parte. Olhei para Denje e percebi seu sorriso brincalhão imaculado. Sua inocência para com o mundo me causava um pouco de inveja como também assegurava meu instinto protetor. Não queria que nada de mal lhe acontecesse, portanto sabia que tínhamos que fazer aquilo. Girei os calcanhares, abraçando minha mãe e lhe dando um beijo na maçã do rosto. Seu rosto exibia a mais pura tristeza e lágrimas lhe escorriam os olhos marejados, uma cena que eu nunca esqueceria. Ela possível ver o medo em seus orbes enegrecidos. Em partes eu também o encontrava em mim. – Estaremos bem, mamãe, não se preocupe. Mandarei notícias sempre que possível! – Sorri-lhe o mais doce dos sorrisos, torcendo para que a segurança em meu tom de voz lhe transmitisse paz. – Além disso já enviei uma coruja para o vice-diretor, pedindo uma audiência com o diretor de minha dinastia, seja ela qual for, a fim de debatermos alguns pormenores. Não somos típicos alunos, certo? Acredito que a conversa será o necessário para que compreendam nossos pormenores. – Ainda assim, Yinka... – Ela retrucou. – Não quero que nada aconteça aos meus bebês. Ola, não existe nenhum modo de os educarmos em casa? – Mi, nós lhe ofertamos de tudo! Denje certamente não largará a irmã... – Não mesmo! – Meu irmão retrucou, meio indignado. – … E você sabe bem que Yinka nunca deixará de seguir o que seu coração manda. – Olhava-a pacientemente. Voltou-se para nós, seus filhos, encarando-nos com a mais genuína preocupação. – Vocês sabem que se, de alguma maneira, sofrerem algum tipo de violência e desistirem, nós entenderemos, certo? Ele sabia qual seria minha resposta. Éramos Arendse – Arendse não desistem. Fomos a única família do continente africano que se permitiu viajar todos os países de lá no intuito de identificar crianças com aptidão mágica e encaminhá-las para instituições decentes em magia; somos a família que luta pela igualdade de gênero, raça, sangue e sexualidade, favoráveis aos movimentos sociais e as lutas revolucionárias, sem nunca abrir mão da politicagem; reconhecemos que a violência é um método opressor que cala aqueles que se erguem contra o sistema, contra os grandes dragões das elites bruxas, e, portanto, entendemos a necessidade do próximo. O que seria eu se não acreditasse nesses mesmos ideais? Muito embora meus pais tenham me permitido o livre arbítrio, nunca cogitei ignorar tais ensinamentos, uma vez que são vistos como os mais puros e corretos. Não seria esse o momento. – Eu e Denje ficaremos bem, não é mesmo, Den? – Enviei-lhe um olhar cheio de significados. – Sim, com certeza! Estaremos muito bem. – Assentiu com a cabeça. E ali foi o momento para a despedidas. Após vários abraços calorosos – os quais prolonguei em uma tentativa de manter aquela sensação mais presente em minha memória –, alguns tantos beijos trocados e uma pequena conversa amável, eu e meu irmão nos sentíamos mais do que prontos para embarcar na suntuosa embarcação nórdica, aquela que nos levaria sabe-se lá para onde. É claro que o frio na barriga se intensificou conforme subimos a bordo, mas logo sumiu quando notei a presença do poltergeist mau humorado, ignorante e desnecessário. Franzi o cenho. Como podia ser tão estúpido com os alunos daquele modo? Isso sem falar da tripulação que não exibia a menor cordialidade. Compreendia que tinham permissão para sentir o que achassem se enquadrar a si naquele dia, fosse pelo motivo que fosse, contudo não aprovava tal conduta. – Yinka, relaxa! Acabamos de chegar! Podemos, pelo menos, achar uma cabine e ficar quietinhos lá? – Den parecia ler minha mente (eu sinceramente não duvidava dessa possibilidade). Suspirei. – Tudo bem. Só porque você me pediu. – Virei o rosto na direção da entrada que nos conduziria para o quarto andar da embarcação. – Mas se eles fizerem alguma coisa errada, Den, não respondo por mim. – Tá, tá. Vem, vamos vem o que tem lá. O arco que nos separava do interior do navio escondia um grandioso salão composto de madeira envernizada e escurecida, comportando várias cabines e dois lances de escadas que seguiam para dois sentidos diferentes. Várias cabeças passavam de lado a outro, cima a baixo, no intuito de se acomodarem nas cabines que, imaginava eu, também existiriam nos outros andares. Por enquanto não me pareceu favorável conhecer aquele lugar – não ainda. Segurei a mão de meu irmão e segui para uma das portas daquele lugar, acabando por encontrar um espaço em uma das últimas disponíveis. Acontece que em todas as outras existiam casais, grupos ou pessoas solitárias que não exibiam um olhar muito amigável quando sugeria dividir o ambiente com as mesmas. Isso, talvez, fosse o mau humor típico dos estudantes que voltavam para sua escola. Esperava que aquele não fosse um mau sinal. Sentamo-nos, então, nos sofás simples dispostos na cabine, de modo a deixarmos nossa bagagem de mão em um canto. Denje parecia curioso, bastante animado, e arriscaria dizer que não tardaria em sair dali para explorar o que pudesse, mesmo ouvindo o aviso nada complacente do capitão do barco sobre a permanência nos corredores. Ao menos naquele instante parecia bastante cansado para simplesmente sair por aí, ainda que não deixasse de olhar para todos os lados a procura de algum segredo. Eu, entrementes, configurava alguém que inexpressivo. Sentia falta das montanhas da lua, local onde nossa antiga e única escola, Uagadou, se situava. Lembro-me perfeitamente do dia em que recebi o mensageiro do sonho informando-me sua escolha em me acolher nos aposentos da melhor e mais promissora escola de magia africana. Sorri, meio sonhadora, ante aquela memória, perguntando-me como seria ali em Durmstrang. – Sabia que minha avaração melhorou trinta vezes, Ka. – Den falou, sem mais nem menos, começando a gesticular um incendio. Sorri com a pequena bolinha de fogo em minhas mãos. Estava fraca, mas estava ótima! – Uau! – Meus olhos se arregalaram ligeiramente. – Espera só quando você começar com as magias de gelo. São mais difíceis, mas sei que consegue fácil, fácil. – Você só fala isso porque consegue com facilidade... – Vi certo desgosto em si. – Eu não sou tão bom. – Ah, para com isso! Eu só consegui porque a srta. Grahn me deu umas aulas a mais, só isso. – Ela era a melhor, né? – Não era segredo para mim que Denje tinha uma quedinha pela professora de avaração. – … Sim... – Confessei. Mal sabia eu que Hannah Grahn e nós nos reencontraríamos naquele ano letivo, mas agora em uma circunstância completamente diferente; eu não fazia nenhuma ideia do que nos aguardava no instituto russo e, convenhamos, isso não era necessariamente uma coisa boa. |
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