Nascida em meados de um inverno rigoroso que pairou Toulouse, deixando-a tão branca que perdia-se a arquitetura francesa por debaixo de toda a neve de macia aparência. Tal qual a jovem que nascia sem ter sido minimamente desejada e desde sempre tão marcante. Visto o choro que irrompeu pelos corredores anunciando sua chegada. Os cabelos foram suavemente tecidos junto ao ouro e os fios dos raios de sol, iluminando-lhe a tez branca de toque suave, os olhos ariscos denotavam um tom variante do cinza ao azulado. Os inóspitos progenitores não faziam ideia do que haviam gerado. Muito antes de conhecer o mundo ao qual pertencia fora renegada sem que houvesse ali o sopro de algum sentimento plausível de compreensão. Abandonada ao nascer, fora tomada e cuidada pelos avós paternos que viram na pequena criatura o início de um novo mundo. Tivera de fato tudo o que o dinheiro poderia comprar de melhor, uma vez que Gália Rosemund – a avó – era herdeira universal da primeira revista dedicada ao público feminino, tendo sua origem em Paris quando iniciou-se a era dos jornais. Na época, Made Mode vinha como uma pequena tira sugestiva, tomando posteriormente conta de uma página inteira até que pudesse desvincular-se dos jornais e tornar-se única. 

Aiolon – o avô – fugido da Itália aos dezessete anos de idade, ganhou as ruas de Paris até se tornar ajudante de alfaiate. Não demorou pra que sua criatividade e bom corte ganhassem a clientela, até que se tornasse conhecido e atualmente, ser o maior estilista italiano conhecido no mundo. Em virtude das veias artísticas da família, não haveria como Harding vir de modo diferenciado. Batizada com o nome do vigésimo nono presidente dos Estados Unidos da América, desde muito cedo mostrou-se sagaz como jamais poderia se esperar. Dona de uma personalidade marcante, Harding sempre tivera em mãos o que bem pretendia e a quem bem desejasse, sem que pra isso precisasse recorrer aos avós. Era e sempre fora suficientemente capaz de conquistar o que se deseja sem a ajuda de terceiros. Imponente, irreverente e naturalmente sedutora. Cresceu com a certeza de que tudo pode e isso lhe cabe como verdade. Em virtude do ocorrido quando nascera, tornou-se por vontade dos avós herdeira universal de todos os bens obtidos durante os anos com o esforço da família. 

Quando criança fora mandada a academia francesa onde concluiu com louvor seu processo acadêmico. Logo após fora trabalhar em uma renomada revista de Paris.

Casou-se cedo com um dos modelos que desfilavam as roupas criadas por Aiolon, e cedo descobriu as tristezas do desamor. Descobriu a traição do esposo, sabendo por seu assessor pessoal as divergências de agenda e as mentiras por seu ate então cônjuge contadas. Além de outras amantes espalhadas pelos países em que desfilava, o homem mantinha relações extraconjugais e fixas com uma modelo iniciante menor de idade. Prato cheio pra uma mulher de vias naturalmente vingativas. Sem que soubesse o responsável por detrás do escândalo, Harding fez questão de devastar tudo o que seu marido tinha de valor. O crime de poligamia e corrupção de menor viera-lhe como uma luva, livrando-se daquele que lhe tomou por tola e dando fim a tudo o que ele conhecia. 

 Apesar de ser bem sucedida, seu desejo nunca fora levar uma vida normal como subjugavam seus avos, pelo contrario, Harding almejava ingressar ao mundo bruxo, ainda que fosse discriminada por muitos por ter nascido trouxa. Tão logo pode mudou-se da França julgando ser necessário estar em ares neutros pra que pudesse escolher que rumo dar a sua vida. Instalou-se por fim em Londres que embora não fosse tao neutro, fora o lugar escolhido.